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Quando caímos, sempre terá um amigo seu para rir ou se divertir. | Reprodução IA
Quem nunca precisou disfarçar o riso ao ver aquele amigo tropeçar na rua — ou soltou uma gargalhada com as clássicas videocassetadas do Faustão?
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Por mais que soe cruel, gargalhar diante de um tombo alheio é uma reação mais comum do que se imagina. Mas afinal, por que achamos engraçado quando alguém cai?
A resposta para essa pergunta, ao contrário do que muitos pensam, não está no sadismo ou na frieza emocional, mas sim em um curioso conjunto de fatores psicológicos e sociais que moldam como reagimos a situações inesperadas e inofensivas.
Segundo a psicóloga Janet Gibson, professora emérita do Grinnell College, nos Estados Unidos, e especialista em psicologia do humor, quatro ingredientes principais costumam transformar uma queda em uma situação cômica.
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O primeiro deles é a violação da norma: esperamos que as pessoas caminhem normalmente, do ponto A ao ponto B, sem grandes percalços.
Quando esse "roteiro" é quebrado, nosso cérebro percebe a ruptura como algo fora do padrão — e, curiosamente, isso pode soar engraçado.
O segundo fator é a surpresa. Um tropeço é quase sempre inesperado, e essa quebra de expectativa tem forte potencial humorístico.
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Mais do que a queda em si, é a forma de como ela acontece — o momento, o contexto e até a coreografia involuntária da pessoa indo ao chão — que provoca o riso.
O terceiro elemento é a ausência de gravidade. Se a queda não representa risco sério à saúde da pessoa, ela ganha espaço no repertório do humor.
Por fim, o quarto ponto é a expressão facial de quem cai. Uma reação de dor ou raiva tende a cortar o clima cômico. Já um semblante surpreso ou envergonhado, com aquele clássico olhar perdido de "o que acabou de acontecer?", reforça o efeito cômico da cena.
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Além desses ingredientes, o contexto em que a queda é assistida também influencia nossa reação. O professor de marketing Caleb Warren, da Universidade do Arizona, destaca o papel do distanciamento — seja ele espacial, social ou temporal.
Um tombo registrado em vídeo do outro lado do mundo, com um estranho que nunca vimos, é naturalmente mais "engraçado" do que o de um amigo querido ao nosso lado.
Da mesma forma, uma queda que aconteceu há meses pode ser recontada hoje em tom de piada, desde que não tenha deixado sequelas.
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É importante lembrar que nem todas as pessoas acham graça nas quedas — e nem todo tombo é engraçado. Uma queda pode representar risco sério, especialmente para crianças e idosos. Fraturas e traumas são acidentes reais e devem ser prevenidos com atenção.
Além disso, o humor nem sempre vence a empatia. "Minha reação é de preocupação, não de riso", admite Janet Gibson. "Penso em uma lesão, num acidente sério."
A psicóloga Geneviève Beaulieu-Pelletier, da Universidade de Québec, reforça que rir de um tropeço leve não precisa ser visto como crueldade.
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“Não rimos do sofrimento. Rimos da surpresa, da incongruência da situação”, diz. “Devemos perdoar a nós mesmos por rir das situações cômicas que envolvem a falta de jeito das pessoas.”
Do outro lado do riso está o constrangimento. Quem nunca se sentiu envergonhado após uma escorregada em público?
O psicólogo Roland Miller, da Universidade Estadual Sam Houston, nos EUA, explica que o embaraço está ligado à avaliação social. "Nos sentimos mais constrangidos quando há estranhos ao redor, porque nos preocupamos com a imagem que estamos passando", afirma.
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Curiosamente, situações embaraçosas com amigos ou familiares próximos tendem a causar menos vergonha. Afinal, essas pessoas já nos conhecem e nos aceitam como somos.
No fim das contas, rir de um tropeço pode ser uma forma de aliviar a tensão de uma situação inusitada. Desde que a queda não tenha consequências graves, o riso surge como um reflexo humano, involuntário, muitas vezes até solidário.
E se for você quem tropeçou, a dica de Miller é simples: “Levante-se, limpe a sujeira dos joelhos, mostre sua vergonha e siga em frente”.
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